|
Trabalhos de Estudantes Trabalhos de Português - 11º Ano |
|
|
Projeto de leitura: Conto Sr. Nicolau Autores: Alex Reis Escola: Colégio Liceal de Santa Maria de Lamas Data de Publicação: 20/06/2012 Resumo do Trabalho: Projecto individual de leitura sobre o conto "O Sr. Nicolau", realizado no âmbito da disciplina de Português (11º ano). Comentar este trabalho / Ler outros comentários Se tens trabalhos com boas classificações, envia-nos, de preferência em word através do Formulário de Envio de Trabalhos pois só assim o nosso site poderá crescer.
|
|
Introdução Este trabalho surgiu no âmbito da disciplina de literatura, tendo como visão a autonomia e produção textual pessoal, portanto é a isso que me proponho neste projeto individual de leitura. Vou então analisar de acordo com os parâmetros estipulados o conto que me foi atribuído pela professora. Conto O Sr. Nicolau O pai queria fazer dele um homem. Por isso, mal o pequeno acabou a 4.ª classe em Pedornelo, Guimarães com ele! Mas não havia padre Macário capaz de endireitar semelhante criatura. Nem a puxões de orelhas e a golpes de régua se conseguia evitar que o rapaz saltasse a toda a hora pelas janelas do colégio e desaparecesse pelas serras a cabo, aos grilos. Trazia já o vício da terra; mas, com a idade, em vez de a coisa melhorar, piorava. De palha na mão, era vê-lo à torreira do sol. Metia a sonda em cada agulheiro que encontrava, punha-se a esgravatar, a esgravatar, e o pobre do habitante do buraco não tinha outro remédio senão vir à tona. Só quando o estômago dava horas das grandes regressava a casa com vinte ou trinta bichos daqueles. O reitor mandava-o ir ao gabinete, punha-lhe a cara num pimentão, mas de pouco valia. No dia seguinte, lá fugia ele outra vez. Tinha o quarto transformado em viveiro. Em vez de retratos de atrizes e de cowboys, gaiolas de todos os tamanhos dependuradas nas paredes, com folhas de alface e de serradela metidas nas grades. E era num tal cenário que o prefeito o encontrava - quando o encontrava -, abstrato, alheado, fora do mundo. - A lição? - Estou a estudá-la... Na aula a seguir é que a coisa se via: um estenderete! Contudo, como inexplicavelmente na cadeira do Dr. Rodrigues só tirava vintes, e o professor gorava de grande prestígio entre os colegas, ano sim, ano não, lá passava. A nota de Zoologia podia muito. E os outros mestres, apertados, davam o 10 e desabafavam: - Vá lá... Como sabe tanto de grilos... - No fim do curso do liceu, Coimbra. Para médico. O pai sonhava com ele em Pedornelo a curar maleitas. Mas quando, ao cabo de seis anos, o velho julgava que tinha ali o Paracelso dos Paracelsos, a folha corrida do rapaz registava apenas uma enigmática distinção em ciências naturais e reprovações no resto. Deus não quis, todavia, matar o santo homem com a punhalada duma desilusão. Nas vésperas de o cábula regressar, mandou-lhe piedosamente uma broncopneumonia, que o levou desta para melhor, juntamente com as esperanças que depositara no filho. E foi assim, herdeiro das ricas terras do pai, e com a Arca de Noé sabida de cabo a rabo, que o Sr. Nicolau voltou definitivamente a Pedornelo. Andava então pelos trinta anos. Alto, seco, pálido, delicado, veio pôr na veiga e nos montes da terra uma nota que até ali não havia: a mancha lírica dum cidadão de guarda-sol branco a caçar bicharocos. - O Sr. Nicolau passou bem? - Bem, muito obrigado, tio Armindo... E abaixava-se a agarrar uma louva-a-deus. Tirava um frasco do bolso, pegava na infeliz com mil cuidados, não lhe fosse quebrar um braço, e bojo do vidro com ela. A princípio, todos arregalaram os olhos, num justo e desconfiado espanto. No que dera o filho do Sr. Adriano Gomes! Mas apenas lhes arrendou, por umas cascas de alho, os bens de que passara a ser dono, e o viram contente com a transação, mudaram de ideias e puseram-se a vender-lhe quantos insetos havia nas redondezas. Bastava chegar ao pé dele e mostrar-lhe uma joaninha, para que a comprasse logo por um tostão. De modo que semelhante maluqueira era uma mina, vista por qualquer lado. Só o mestre-escola, o velho Sr. Anselmo, que já na instrução primária se vira e desejara para meter naquela cabeça tonta as contas de multiplicar, se mostrava renitente na aceitação de tão grande desgraça. E, quando acabou por dar o braço a torcer, foi desta maneira: - Enfim, do mal o menos. Se lhe dá para colecionar burros, tínhamos a aldeia transformada numa estrebaria... Mas o Sr. Nicolau resistia a tudo. Às ironias do antigo professor e ao egoísmo do povo. E, mal o sol apontava na serra de Alijo, lá ia ele pelos restolhos fora. Vivia sozinho. Além da Gertrudes, que vinha de vez em quando lavar-lhe a roupa e fazer-lhe um caldo, ninguém mais lhe entrava em casa, a não ser pelo S. Miguel, na altura do pagamento das rendas. Viam-no então no escritório, entre grandes armários, onde, desde as pulgas às carochas, dormiam o sono eterno quantos seres a sua paciência e os seus vinténs conseguiram agarrar em Pedornelo e cercanias. Tinha-os em caixas de papelão, aos centos, em fila, catalogados e suspensos num alfinete que lhes entrava nas costas e saía na barriga. Havia-os de todos os tamanhos e de todas as cores possíveis. Grandes, pequenos, pequeninos, amarelos, brancos, pretos, azuis, vermelhos, um ou dois de cada qualidade e de quantas qualidades fora capaz a imaginação divina. Calmamente, amorosamente, à medida que o tempo andava, crescia o cemitério. E, calmamente, o coveiro, o Sr. Nicolau, ia envelhecendo entre os mortos. O seu mundo fechara-se ali, concêntrico, sem horizontes, murado pelas estantes envidraçadas, onde o sonho se conservava em naftalina. As nações desabavam, sucediam-se guerras, a própria aldeia oscilava nos gonzos. Mas o senhor Nicolau, alheio às paixões humanas, continuava a povoar os dias de libélulas e borboletas. A certa altura, o boateiro do Fagundes lançou a atoarda do próximo casamento do lunático. - E com quem? - perguntou o professor, carregado de inocência. Mas como ninguém lhe soube dizer o nome da noiva, rematou ele: - Talvez com alguma lesma... E bem é. Fica tudo em família. A balela foi por assim dizer o derradeiro sinal que Pedornelo deu de que não se esquecera inteiramente da vida social do Sr. Nicolau. Porque, apenas o mestre disse a ironia, e todos acabaram de se rir à vontade, o desgraçado saiu da lembrança da povoação. Logo a seguir, quando passavam, ou já nem o cumprimentavam, ou lhe davam os bons-dias com o mesmo automatismo com que tiravam o chapéu, às Trindades. Nem que ele atravessasse o largo com uma ruga funda e desesperada na testa, se lembravam de o lamentar. O nome do amalucado, agora, significava o mesmo que carrapato, ralo, formiga ou coisa assim. Era um bicho. Um inofensivo bicho, igual aos milhares quê tinha no escritório embalsamados. Às vezes, a ruga tinha profundidade. Minava-o um desgosto tão verdadeiro como o de qualquer vizinho aflito com os estragos de uma trovoada. Mas cinquenta anos de alheamento coletivo tiravam-lhe o direito de ser compreendido por homens. Quem podia admitir que fossem motivo de desespero a tenaz quebrada dum besoiro ou qualquer sinal de traça numa bicha-cadela?! A sensibilidade de Pedornelo não reagia aos estímulos de tão subtis calamidades. Ali, a respeito de sofrimento, entender, só fome, febres e facadas. Quis finalmente o Dr. Saul olhar aquele ser como habitante da terra e criatura de Deus. Chamado à pressa pela Gertrudes, que fora encontrar o velho encolhido como um feto no sofá do escritório, veio, auscultou, tomou o pulso, pôs o termómetro, e resolveu por fim entrar pelo corpo dentro do moribundo com uma agulha que lhe enterrou na espinha. Mas o sr. Nicolau, agora, estava de todo integrado no destino dos seus companheiros. Delirava. Sentiu vagamente a dor na coluna, lembrou-se do que tinha feito aos milhares de irmãos, e pensou: - Má técnica... Era éter acético primeiro, e só então... Oxalá não se esqueça ele ao menos de escrever no rótulo, corretamente, o meu nome em latim... E daí a nada, depois da última contração, sereno e de olhos fechados, ali ficou quieto e feliz, à espera que o metessem na sua caixa. Texto Critico Neste conto podemos comprovar que existem homens, que se sentem melhor circundados pelos animais: “O seu mundo fechara-se ali, concêntrico, sem horizontes, murado pelas estantes envidraçadas, onde sonho se conservava em naftalina. (…) Mas o senhor Nicolau, alheio às paixões humanas, continuava a povoar os dias de libélulas e borboletas.“ Miguel Torga mostra vários momentos da vida humana, os sofrimentos, a tristeza, a morte, a amizade, a esperança, a desilusão… E, através dos protagonistas humanos, que às vezes saem fora das convenções, dadas pelas regras humanas, faz-nos lembrar, que todos somos bichos, e sofremos as mesmas influências e temos que lutar pela nossa liberdade. Todos somos do mesmo mundo, que nos protege contra os desagrados do nosso Criador, da Natureza. O conto insere-se dentro de uma mundivisão própria do rural português, um meio geocultural e um determinado modo de ver, entender, classificar e atuar no mundo. Este conto não é uma fábula, nem reclama miticismo. Faz parte de uma elaborada tradição de relacionamento com a natureza e os animais por parte dos seres humanos que habitam lugares como Trás-Os-Montes, a partir da qual Torga ficcionaliza. As leituras mitificantes, provenientes de receções hetero-espaciais, hetero-temporais e, já, hetero-culturais, partem essa ponte recetiva. O que podia ser interpretado como o conjunto mais realista dos contos de Torga, na minha opinião o conto “Sr. Nicolau”, apresenta também ele elementos recetivos inclinados a distorcer a geocultura que os apoia. Isto revela algumas coisas sobre a nossa atual sociedade, que as suas leituras estão geralmente ajustadas a um mundo urbano, escolar, presidido pelas novas tecnologias, por vezes intelectualizado e sem a vivência do rural, sem o contato com a natureza, nos dias de hoje as crianças e os jovens cada vez se isolam mais do mundo exterior. E tudo aquilo que geralmente envolve dedicação, e cada vez mais aquilo que se encontra a desaparecer. Identificação do tema desenvolvido
Na minha opinião, este
livro sensibiliza bastante o leitor, unindo uma realidade nos dias que
hoje correm, com a sua causa, o que levou a essa mesma, de uma maneira
não tão direta, mas eficaz, de modo a emocionar quem o lê, a ideia
principal deste livro centraliza-se numa oposição entre a vida e a
cultura de uma sociedade, através da apresentação de animais com o
sentir humano e vice-versa; uma irmandade entre homens e os animais. Categorias da narrativa O texto é uma narrativa aberta, está escrito em prosa e tem como característica a ficção, é uma narrativa de ficção. O narrador caracteriza-se por ser heterodiegético e omnisciente visto ter um conhecimento de todos os factos; o tempo está por ordem linear e o tempo histórico podemos defini-lo por ser de um passado não muito distante em que o mundo rural ainda prevalecia mas ao mesmo tempo um tempo de viragem na história; o espaço num primeiro plano é Guimarães, depois após ter herdado um terreno mudou-se para a aldeia, aparentemente a sua verdadeira terra; os modos de expressão utilizados neste conto são a narração, a descrição, o diálogo. O tamanho do conto - uma narrativa curta - limita à partida a variedade e extensão da análise de todos os elementos característicos da narrativa. Compreende-se desta forma a razão de haver poucas personagens, quase sempre planas: não há espaço para as explorar convenientemente. Também, por isso, recorre-se à descrição apenas quando é indispensável à progressão da ação. No entanto, é preciso recordar que estamos a referir características gerais. Neste conto é possível encontrar diálogo que tem uma importância e onde a descrição assume o destaque. Rescrição do texto
A boca selada pode salvar
a vida Este conto relaciona-se com o conto do sr. Nicolau porque ambos não deixaram de acreditar. E devido à sua persistência, colheram os frutos disso mesmo. Conclusão Ao realizar este trabalho tive a oportunidade de reavivar a minha memória em relação a parâmetros que já não tinha tão presentes, tirei uma vasta informação pessoal porque aprendi a ver e apreciar as coisas de forma diferente, penso no entanto que o trabalho podia ter sido um pouco mais complicado de maneira a elevar os nossos conhecimentos mas fico contente com o conteúdo que pude retirar com este. Bibliografia http://contosdeaula.blogspot.pt/2008/12/o-senhor-nicolau.html;
Outros Trabalhos Relacionados
|
|