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Apontamentos e Resumos de Português - 9º Ano |
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Auto da Barca do Inferno Autores: Marta Oliveira Escola: Escola E.B.I/J.I de Aljezur Data de Publicação: 15/08/2012 Resumo do Trabalho: Resumo/Apontamentos sobre todas as cenas do Auto da Barca do Inferno de Gil Vicente, realizado no âmbito da disciplina de Português (9º ano). Comentar este trabalho / Ler outros comentários Se tens trabalhos com boas classificações, envia-nos, de preferência em word através do Formulário de Envio de Trabalhos pois só assim o nosso site poderá crescer.
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Arrais do InfernoNa primeira cena do Auto de moralidade ficamos a conhecer as circunstâncias em que foi escrito, o seu argumento e as personagens. A peça começa com um diálogo entre o Diabo e o seu companheiro. Circunstâncias em que foi escrito O Auto da Barca do Inferno foi composto por Gil Vicente, a pedido da Rainha dona Leonor, a fim de ser representado ao príncipe e ao rei Dom Manuel. Argumento da obra O auto representa o julgamento das almas humanas na hora da morte. No cais estão dois arrais, um conduz à Barca da Glória e outro à Barca do Inferno, por onde vão passar diversas almas que terão de enfrentar uma espécie de tribunal, defender-se e enfrentar os argumentos do Anjo e do Diabo que surgem como advogados de acusação. Através da brilhante metáfora do tribunal, Gil Vicente põe a nu os vícios das diversas ordens sociais e denuncia a “podridão” da sociedade. Assim, a grande maioria das almas são condenadas ao Inferno. Personagens Na didascália inicial também nos é apresentado todas as personagens que vão passar pelo cais sendo elas: o fidalgo, o onzeneiro, o parvo, o frade, a alcoviteira, o judeu, o Corregedor e Procurado e por último os quatro cavaleiros, e aquelas que as vão julgar o Diabo mais o seu companheiro e o Anjo. Diálogo entre o Diabo e o Companheiro O diálogo que o Diabo tem com o companheiro mesmo antes de as almas começarem a chegar, presenciado também pelo Anjo que se encontra no seu batel, é muito breve, mas apresenta aos leitores/espetadores uma noção do que se irá seguir nas próximas cenas. Podemos observar que o Diabo encontra-se muito alegre e confiante, pois certamente já saberá que irá ter muitos remadores, por essa razão promove a sua barca, com chamamentos e interjeições. Para que tudo esteja perfeito o Diabo vai dando uma série de ordens ao companheiro, podemos ver assim que é autoritário, pois praticamente todos os verbos estão no modo imperativo. Elementos alegóricos O cais onde se encontram as barcas - Fim da vida terrena. O local de passagem para a outra vida. As barcas – Caminho que conduz à salvação/perdição. O Diabo – O mal, condenação dos vícios. O Anjo – O bem, a recompensa das virtudes. O Auto da Barca do Inferno – O juízo final. FidalgoO Fidalgo representa a nobreza e critica, aqueles que só pensam no seu estatuto social. Símbolos cénicos Paje - Simboliza a tirania e opressão que exercia sobre o seu povo. Cadeira d’espaldas - Representa a falsa vivência da religião. Manto - Símbolo do estatuto social e da sua vaidade. Resumo da cena O Fidalgo apresenta-se com toda a sua vaidade e presunção, ricamente vestido. Habituado a gozar de privilégios especiais, não coloca a hipótese de ir para o Inferno, assim para justificar o seu direito a entrar na Barca celestial, apresenta-se apenas ao Anjo na sua condição social, “ Sou fidalgo de solar/ é bem que me recolhais.” É acusado de viver a seu prazer, ou seja, fazer tudo o que queria, ser tirano, vaidoso, materialista… Além disso, fora infiel à sua mulher, mas Gil Vicente, na boca do Diabo denuncia também a corrupção da mulher da corte. São satirizados, caracterizando a sociedade do seu tempo, a hipocrisia, a falsidade, o fingimento, a infidelidade da mulher da corte. O Fidalgo ao longo da cena vai mudando o seu estado de espirito, de acordo com a evolução do seu julgamento. Começa por ficar surpreendido, incrédulo passando por momentos de ingenuidade, acabando por se resignar à sua sorte. Os dois arrais utilizam argumentos de acusação e o fidalgo contrapõe com argumentos de defesa. Gil Vicente condena toda uma classe social, através desta personagem tipo, visível na fala do Diabo quando este afirma que o pai do Fidalgo já tinha embarcado na sua barca. Como sentença final, o fidalgo embarca na barca do Inferno e o paje não entra em nenhuma das barcas pois representa um elemento do povo, a principal vítima da opressão da nobreza. OnzeneiroO Onzeneiro, representa a burguesia e um vício social da época. Era um usurário que enriquecera à custa de altos juros do dinheiro que emprestara aos necessitados, a quem o Diabo chama meu parente. Símbolos cénicos Bolsão - Representa a sua ganância pelo dinheiro. Resumo da cena Apresenta-se com um bolsão que ocupa quase toda a Barca, mas informa-nos que vai vazia. Roga ao Diabo que o deixe voltar ao Mundo para ir buscar os seus bens, mostrando assim o materialismo, a ganância, a ambição que povoa o seu coração. No entanto, apresenta-se em cena tão pobre que nem sequer tem dinheiro para pagar ao barqueiro. Tem como destino final a ilha perdida, sendo deste modo castigado por todos os pecados cometidos e por conseguinte toda a classe que representa, a burguesia. Joane, o ParvoCom esta personagem, Gil Vicente não pretende criticar nenhuma classe social, mas sim tornar a peça não tão monótona e criar um pouco o cómico. Símbolos cénicos A personagem não transporta símbolos cénicos, pois tudo o que fez foi sem consciência alguma. Resumo da cena Apresenta-se com toda a sua simplicidade, ingenuidade e graça, autocaracteriza-se perante o Diabo como tolo. Queixa-se por ter morrido mas há descontração nas suas atitudes e apenas se irrita quando percebe que o Diabo o quer levar para o Inferno. Os insultos que profere revelam o seu carácter de pobre de espírito. Ao apresentar-se perante o Anjo sintetiza toda a sua simplicidade ao afirmar que é “Samica alguém”. Salva-se porque não há maldade nos seus atos. É como uma criança a quem não se pode atribuir responsabilidade. Este Joane é a concretização do preceito cristão, segundo o qual são “ bem-aventurados os pobres de espirito porque deles é o reino dos céus.” SapateiroO Sapateiro representa a baixa-burguesia, e um grupo de ofícios. Nesta personagem, está novamente presente a critica às práticas erradas da religião. Símbolos cénicos Avental e as formas de sapatos - Representam os anos que enganou os seus clientes. Resumo da cena O Sapateiro é acusado pelo Diabo de roubar o povo, este não nega e começa a citar em sua defesa, o cumprimento de preceitos religiosos: . Faleceu comungado e confessado; . Ouviu missas; . Ofereceu donativos à Igreja; . Assistiu às horas dos finados. É o Diabo quem o elucida que tudo isso nada abona em sua defesa, uma vez que praticava o mal. Quando o sapateiro roga ao Anjo que o acolha na Barca, este objeta-lhe “ a carrega t’embaraça”, ou seja, as formas seriam a materialização dos pecados, pois foram compradas com dinheiro roubado aos fregueses. A crítica desta cena está na verdade que os preceitos devotos só ajudam os que levam uma vida honesta. FradeO Frade representa o Clero. Símbolos cénicos Moça – Quebra do voto de castidade Equipamento de esgrima (broquel, espada, capuz e capacete) – Lado mundano e leviano da sua vida. Hábito – Mostra a sua religião Resumo da cena Chega ao cais a dançar e a cantar, mostra-se alegre e amigo de se divertir. Começa por se assumir como “cortesão”, frequentador da corte o que revela o seu lado mundano e pouco dado a clausuras próprias da sua condição de frade. Essa sua característica é confirmada quando afirma saber dançar e esgrimir, atributos de jovens galantes nobres. Não é um frade que tivesse cumprido os votos de pobreza e castidade como se comprova pela moça que traz. Parece ter se limitado a fazer o que os outros frades faziam, com a arrogância de quem pensava que tudo lhe era permitido só por ser membro da Igreja. Em suma, a intencionalidade crítica desta cena é apontar a devassidão do clero, o materialismo e a corrupção dos valores da Igreja; o carácter artificial das orações e a cópia dos costumes da Igreja. Alcoviteira, Brízida VazA Alcoviteira representa os elementos do povo e baixa-burguesia que se dedicavam a encaminhar as raparigas e mulheres casadas para a prostituição. Representa esta atividade profissional. Símbolos cénicos Hímenes postiços, arcas de feitiços, armários de mentir, furtos alheios, joias de vestir, guarda-roupa de encobrir, casa movediça, estrado de cortiça, coxins e moças - Estes elementos representam a exploração interesseira dos outros, para seu próprio lucro e a sua atividade de alcoviteira ligada à prostituição. Resumo da cena Esta personagem apresenta-se com voz elogiosa e usa uma linguagem popular. Brízida caracteriza-se a si própria, pois fala tanto sobre a sua atividade que não é necessário lembrar-lhe dos pecados que cometeu. Tanto o Diabo como o Anjo não a acusam, mas ela defende-se por não querer ir para o Inferno, dizendo que casava muitas mulheres, que tinha sido muito martirizara, que tinha convertido muitas raparigas, que as tinha encaminhado e até que as vendia aos cónegos da Sé, argumentando que servia a igreja, deveria ir para o Paraíso. Quando descreve os objetos que transporta utiliza tantas palavras do campo semântico da mentira, que ficamos a saber que enganar os outros e a sua profissão, que é confirmado pela forma hipócrita como se dirige ao Anjo para conseguir que ele a deixe entrar na barca da Glória. Esta cena tem a intencionalidade crítica de denunciar a corrupção dos valores, criticar o lenocínio e depravação do clero. JudeuO Judeu representa a religião judaica e pretende salientar como os Judeus eram mal considerados pelos cristãos. Símbolos cénicos Bode- Representa o apego à sua religião. Resumo da cena O Judeu apresenta-se em cena com o bode às costas, símbolo do apego à sua religião. Dirige-se ao Diabo, pois ao contrário das outras personagens ele sabe que é condenado, que lhe recusa a passagem, tentando o Judeu entrar através do seu dinheiro, o que revela outro carácter dos Judeus – o apego ao dinheiro. Tanto o Diabo como o Anjo não o acusam diretamente, pois o Diabo não permite a entrada de Judeus na barca e resolve levá-lo, juntamente com o bode a reboque. Isto mostra que o Diabo marginaliza de tal modo o judeu que o coloca num plano inferior aos dos restantes condenados ao Inferno. Até o Parvo troca o seu plano de comentador pelo de acusador e culpa o Judeu de profanar sepulturas cristãs e de não respeitar a abstinência e o jejum cristãos. Apesar de sabermos que Gil Vicente não concordava com a perseguição movida aos Judeus e cristãos-novos, a verdade é que, como cristão-velho, dirige ásperas censuras ao judaísmo em geral. Corregedor e ProcuradorO Corregedor e o Procurador aparecem juntos em cena, para por um lado quebrar a monotonia e por outro para alargar a crítica a todos os que trabalham com leis. Representam, assim a classe dos magistrados, criticando o funcionamento da justiça. Símbolos cénicos Corregedor - Processos e vara da Justiça - Representam a corrupção e a magistratura. Procurador - Livros – Símbolo da magistratura. Resumo da cena Esta cena forma um amplo quadro de justiça humana, que Gil Vicente opõe à justiça divina. O Corregedor é quem se apresenta primeiro em cena, no diálogo com o Diabo, mostra-se convencido de que a sua posição social o irá salvar. Seguidamente aparece o Procurador, que vem auxiliar o Corregedor, mostrando assim a cumplicidade que existia nos membros da justiça. Ambos dialogam com o Diabo em latim deturpado, que tem função cómica e caracterizadora. A principal acusação que o Diabo lança ao corregedor e a de não ter sido imparcial nas suas sentenças, deixando-se corromper por dádivas recebidas até de Judeus. O principal argumento de defesa dos dois é a sua posição social, argumentando também com o facto de dizerem que agiram sempre segundo a justiça e quando o Diabo acusa o Corregedor de aceitar as dádivas dos Judeus, este desculpa-se com a sua esposa, afirmando que ele não tinha nada a ver com isso. Gil Vicente também foca a confissão das almas, pouco antes de falecerem: o Corregedor confessou-se, mas ocultou todos os seus pecados e o Procurador, nem sequer se confessou. Esta cena denuncia a prática fraudulenta da justiça, denunciando a corrupção, o oportunismo e a parcialidade. Nesta cena vê-se a condenação da justiça Humana pela Divina. Ambos são condenados ao Inferno e no fim o Corregedor fala com Brízida Vaz (Alcoviteira), pois conhece-a dos problemas com a justiça. EnforcadoO Enforcado representa as vítimas da justiça. Símbolos cénicos Baraço ao pescoço – Este elemento representa a sua vida terrena vil e corruptível. A forma como morreu. Resumo da cena O Enforcado trata-se de alguém que em vida foi preso e condenado à morte. Foi enganado por Garcia Moniz que o teria convencido que iria para o Paraíso visto ter-se já purificado, na prisão do Limoeiro, dos pecados cometidos. Assim podemos dizer que esta personagem nos aparece aqui como vítima, quem será verdadeiramente criticado é Garcia Moniz por ter induzido em erro o enforcado sabendo que não havia solução possível para ele. Gil Vicente põe-nos face a uma personagem de responsabilidade que enganava os mais fracos, como o enforcado, personagem sem vontade própria que se deixa enganar. Quatro CavaleirosOs Quatro Cavaleiros representam aqueles que combatiam pela fé cristã. Símbolos cénicos Cruz de Cristo – Simboliza a fé dos cavaleiros pela religião católica. Resumo da cena Aparecem em cena apregoando uma cantiga que lembra ás pessoas que ficaram em Terra a necessidade de passarem por aqueles barcos e como a vida é uma passagem. Nesta cantiga está contida a moralidade da peça, que é o facto de a vida ser uma transitoriedade e de termos de ser julgados ao chegar aquele cais. Os cavaleiros nem sequer param na barca do Diabo e quando este os interpela eles simplesmente lhe perguntam se sabe com quem está a falar. Estes personagens não apresentam argumentos para ir para o Paraíso, apenas o Anjo quando os vê chegar, diz que já os esperava e que eles são verdadeiros mártires da fé cristã. Os seus símbolos cénicos são as cruzes de Cristo.
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